“Crianças têm o céu no alcance das mãos. Irmão, será que há tempo de poder ser mais?”, dizem os versos da canção, ‘É tudo pra ontem’, do rapper Emicida. Crianças têm ao alcance das mãos o céu e algo que entendo como muito valioso e fundamental para sua chegada no mundo: a curiosidade. E o tempo delas é o agora, que se apresenta pulsante, vibrante e encantador. Diante desse encantamento a tudo que é novo e desconhecido, as crianças são curiosas, desbravadoras natas, que tateiam a vida para elucidar seus mistérios.
Estreantes por aqui, as crianças são cientistas. Descobrem pela primeira vez a textura da areia, o sabor dos alimentos e o cheiro das flores. Olham para o céu e aprendem sobre as cores, o arco-íris e as nuvens de chuva. Depois, começam a perguntar e a colocar os porquês em série, um após o outro, até que se contentem com uma resposta.
A cada experiência, um aprendizado, uma descoberta. Crianças e ciências estão tão ligadas quanto uma pessoa adulta de jaleco, óculos e tubos de ensaio em um laboratório. Mas é preciso motivar e estimular essa curiosidade ao longo de seu desenvolvimento. É preciso dar espaço para as perguntas, para as experimentações, é preciso que haja liberdade e oportunidade para que a criança se mantenha curiosa e com desejo de aprender.
Pensando nisso, preparei este artigo com algumas dicas voltadas às crianças e ao aprendizado científico. Mas, claro, que por meio de canais lúdicos e caminhos criativos, nos quais as brincadeiras e a experimentação do cotidiano sejam as substâncias principais dessa mistura. Vamos lá?
Importância do aprendizado científico para as crianças
Antes de começar com as dicas para sublinhar o encontro entre crianças e ciências, é importante destacar que a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) trata do conhecimento científico como forma de aprendizado essencial para a construção mental e intelectual das crianças.
A Unesco tem por missão, inclusive, contribuir para a consolidação da paz, a erradicação da pobreza, o desenvolvimento sustentável e o diálogo intercultural por meio da educação, da ciência, da cultura, da comunicação e da informação.
De acordo com o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil, elaborado em 1998, “o Ensino de Ciências deve unir o conhecimento que o aluno carrega consigo, com aquilo que ele possa descobrir com as Ciências Humanas e Naturais, pois se compreende que o desenvolvimento cognitivo é constituído de estágios, cada qual composto de uma série de mudanças ordenadas e previsíveis, no qual o saber é constituído a partir das concepções infantis que são combinadas às informações adquiridas a cada descoberta realizada pela criança, de forma espontânea. Nessa interação o indivíduo é sempre ativo e dinâmico.”
“Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música não começaria com partituras, notas e pautas.
Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria sobre os instrumentos que fazem a música.
Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas.
Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes”.
(Rubem Alves)
Despertar o interesse pelo mundo, incentivar a busca pelo saber, valorizar a ciência são formas de valorizar a vida. Mas podemos ir além e enxergar essas ações como pontos de partida para melhorar as formas de vida.
As crianças e o aprendizado para a vida
Os caminhos do aprendizado e do conhecimento são muitos e extrapolam os muros das escolas e envolvem questões para além da prática. A filósofa, Hannah Arendt, em seu ensaio intitulado “A crise na educação”, de 1958, vai na contramão do que se entendia como um modelo de educação avançado nos Estados Unidos da época.
Para ela, era preciso defender um sistema educacional que não se voltasse sobretudo para a prática, mas que também apresentasse às crianças uma herança de realizações históricas, em uma perspectiva de contexto e legado.
Em sua tese, a filósofa defende não apenas uma mudança nos métodos para resolver os problemas da educação, mas acende a necessidade de uma revisão a respeito da própria substância da educação.
Assim, trago para nossa reflexão a importância de se ampliar a educação para que ela possa avançar e se tornar um conhecimento disponível para todos, rompendo com modelos e padrões que, sem que tenhamos consciência, perpetuam a condição de manutenção da miséria intelectual humana.
Trazer para a vida e ensinar para a vida. E, para isso, te convido a seguir a leitura para ver as dicas de lugares, podcasts e outras atividades que unem crianças e ciências para a expansão do saber no coletivo.
Ciência é coisa séria e divertida
Combinar ciência com brincadeira é uma fórmula que dá certo. A mistura do lúdico com o aprendizado coloca a criança como parte da vivência, da descoberta e da formação do saber.
Ela é atuante e sua presença não é como espectadora, mas sim como autora daquele conhecimento. Tudo flui melhor. Veja agora alguns espaços e atividades que possibilitam esse desbravar criativo e vivo.
Espaços para vivências científicas
Museu Exploratório de Ciências da UNICAMP
Em Campinas, dentro da UNICAMP, temos o Museu Exploratório de Ciências, uma entidade educativa, que tem como propósito a difusão e a disseminação científica.
O museu atua, justamente, no estímulo da curiosidade sobre o mundo e seus fenômenos, incentivando uma postura autônoma e criativa na busca do conhecimento científico.
O Museu realiza oficinas educacionais para crianças e possui um espaço de exploração interativa permanente. Além disso, organiza exposições com participação ativa dos visitantes.Para saber da programação do museu, você pode acessar o site.
Museu Dinâmico de Ciências de Campinas
Ainda em Campinas, outro espaço que combina crianças e ciências é o Museu Dinâmico de Ciências de Campinas, localizado dentro da Lagoa do Taquaral. O espaço abriga o planetário, em uma cúpula de oito metros de diâmetro.
Na sala de projeção para 60 pessoas, há um equipamento Zeiss Skymaster ZKP2 e sessões com projeções sobre o sistema solar para o público. Os visitantes podem contar também com exposições que oferecem experiências sensoriais e divertidas.
Para saber os horários de funcionamento, acesse o site.
Observatório Pico das Cabras
Para olhar do alto para o alto. O Pico das Cabras, também em Campinas, está a 1.080 metros de altitude. No espaço, há o Museu Aberto de Astronomia (MAAS) que tem como objetivo incentivar o conhecimento e o desenvolvimento humano por meio de experiências de contato com a natureza e de olho no céu.
O museu conta com 13 atividades voltadas ao aprendizado da Astronomia Clássica e Moderna. Nele, é possível fazer observações solares e noturnas e conhecer mais sobre a história do planeta Terra.
Além desse momento de conhecimento, é possível partilhar de um tempo agradável com os pequenos, contemplando a natureza e fazendo um piquenique. Para mais informações e programações, acesse o site.
Museu de Ciências Catavento
Agora, uma dica de espaço para conhecimento científico interativo e divertido na cidade de São Paulo. O Museu Catavento tem como missão aproximar crianças, jovens e adultos do mundo científico.
O espaço tem o intuito de despertar aquela curiosidade que falamos no início deste texto e transmitir conhecimentos básicos por meio de exposições interativas e atraentes, com linguagem simples e acessível.
O museu possui 250 instalações, em 12 mil metros quadrados, divididas em quatro seções: Universo, Vida, Engenho e Sociedade. Um olhar sobre tudo e com a possibilidade de reproduzir, por exemplo, o chão da lua com a pisada do astronauta Neil Armstrong.
A brincadeira é guia das descobertas e os fenômenos são compreendidos e percebidos à medida que se experimenta. Vale demais o passeio.
Para saber mais, acesse o site.
Planetário do Ibirapuera
Outra dica na capital que oferece ciência para os pequenos é o Planetário do Parque do Ibirapuera. O local oferece exibições ao público em poltronas inclinadas, como se você estivesse quase que deitado no chão.
Nas sessões, são apresentados grandes momentos do céu estrelado de 1957, ano de abertura do local, até os dias de hoje. É possível ainda notar o movimento dos planetas, assistir a uma chuva de meteoros e aprender um pouco sobre mitologia grega e as constelações.
Além da experiência divertida com os astros celestes, a visita ao planetário é também um passeio arquitetônico, já que a instalação é um patrimônio histórico, científico e cultural tombado por órgãos municipais (Conpresp) e estaduais (Condephaat). Mais informações, pelo site.
Podcasts cientificamente legais
Para ouvir no carro, durante a viagem ou na volta da escola. Os podcasts voltados à ciência para as crianças são outras formas de estimular a curiosidade e despertar o saber. Vamos a alguns deles.
Histórias de Ninar para Pequenos Cientistas
O Histórias de Ninar para Pequenos Cientistas é produzido pela equipe da Minas Faz Ciência, ao lado de pesquisadores das universidades de Minas Gerais. A cada episódio, de mais ou menos 10 minutos, é apresentado um conto com conceitos, histórias, teorias e acontecimentos das ciências.
O corpo humano, a vacina, as estrelas e o trabalho dos neurônios já foram temas de episódios. Além disso, as grandes descobertas e invenções da humanidade também foram narradas de forma lúdica, em uma linguagem simples e gostosa de ouvir.
SciKids
Como um livro dos porquês, no podcast SciKids são as próprias crianças que fazem as perguntas e os cientistas, que entendem da área, respondem. Os episódios têm, em média, 20 minutos.
Sociologia para crianças
A palavra sociologia parece não combinar com a palavra criança, não é? Mas os pequenos trazem perguntas que estão, muitas vezes, inseridas nesse campo de estudos.
Por isso, o podcast Sociologia para Crianças, criado pela Tatiana Amendola, socióloga e pesquisadora da UNICAMP, transforma as perguntas de Alice, filha de Tatiana, em tema dos episódios.
Entre eles, questões como por exemplo, “o que é política?” ou “o que é desigualdade?”. O podcast explica conceitos assim por meio de uma conversa entre mãe e filha. Bom demais.
Outros canais para conhecimento científico divertido
Ciência Hoje das Crianças
Aqui, a dica de uma revista científica produzida especialmente para as crianças. A publicação foi lançada para despertar a curiosidade, mostrar que a ciência pode ser divertida e que está mais presente na vida da gente do que imaginamos.
Trata-se da primeira revista brasileira sobre ciência para crianças e, atualmente, é distribuída para mais de 60 mil escolas públicas do Brasil. A leitura leva informação por meio de fotos, ilustrações e textos acessíveis.
No site, há notícias sobre as recentes descobertas científicas e respostas às perguntas enviadas pelas crianças. O site é dinâmico e fácil de navegar. Um portal de conhecimento científico na palma das mãos. Acesse o site da CHC.
Manual do Mundo
Por fim, a dica de um canal no YouTube, o Manual do Mundo, que tem como objetivo mostrar que há sempre uma possibilidade mais interessante e divertida para aprender sobre as coisas que nos cercam.
Com vídeos bem humorados, o canal de entretenimento educativo, produzido por Iberê Thenório e Mari Fulfaro, ensina desde experiências científicas, culinária até pegadinhas para a família. Para espiar algumas dessas ideias, acesse a página do Manual do Mundo.
Bem, essas foram algumas das dicas que eu queria compartilhar com vocês de espaços e caminhos que possibilitam um encontro criativo, interessante e vibrante entre ciência e as crianças. Manter a curiosidade dos pequenos viva é manter viva a liberdade para aprender.
Até o próximo 😉