Brincadeiras e interações para Educação Infantil

“As crianças não brincam de brincar. Brincam de verdade.”

Mario Quintana

 

Salve, salve, professoras, professores, gestoras e gestores da Educação Infantil! O brincar mais uma vez ganha espaço por aqui e, dessa vez, gostaria de compartilhar com vocês algumas referências que abordam e orientam sobre o aprendizado escolar pensado por meio da brincadeira e das interações. Quem me acompanha sabe que brincadeira, para mim, é coisa séria, assim como é para as crianças. Para elas, o brincar é mais do que um faz de conta. Dentro do tempo-espaço do lúdico, há comunicação e expressão. Se pararmos para prestarmos atenção, veremos o quanto uma criança sinaliza enquanto brinca. 

Dentro da escola, as brincadeiras e interações se apresentam como um caminho de maior e melhor acesso para o aprendizado dos pequenos. A criança experimenta o mundo, o interpreta e o reproduz por meio do lúdico. A imaginação e a capacidade de criar das crianças são características intrínsecas e essenciais para que o descobrir da vida e das coisas da vida aconteça de dentro para fora, com presença e liberdade. A brincadeira é, por si só, a forma de aprender e apreender da criança. 

Pensando nisso, preparei este artigo com inspirações, materiais e fontes importantes para um planejamento do cotidiano escolar atravessado pelas brincadeiras e interações. Aproveitem!

A importância do brincar e a educação infantil

Para começar, gostaria de falar um pouco sobre a importância da brincadeira na educação infantil, presente na pesquisa e na defesa de muitos educadores. Severino Antônio, doutor em Educação pela UNICAMP e Conselheiro do Instituto ALANA, fala, junto da mestre em Educação, Katia Tavares, sobre a poética do princípio, das perguntas primeiras, das indagações das crianças, que possibilitam as descobertas e o encantamento com o mundo. Para eles, em texto publicado na Diálogos, “a criança vê com olhos novos, olhos livres, olhos próprios – o olhar de primeira vez. Faz ao mesmo tempo a descoberta do mundo e a descoberta da linguagem.”

Por isso, é preciso que haja acolhimento, segurança e cultivo do que é da criança e do que se revela, do que nasce e do que se cria a partir dela. Outra referência no assunto que me identifico muito é o pedagogo e doutor em Educação pela USP, Paulo Fochi. Ele afirma que “a brincadeira é uma linguagem para a criança. É também um laboratório embrionário de cidadania, de aprendizagem de cultura, de legitimidade da curiosidade das crianças e de promoção da cultura infantil. Não serve para outro fim senão a possibilidade mais exuberante que é para a criança se relacionar com o mundo e consigo própria”.

E, retomando a imaginação que citei no início, para o pesquisador e artista, Gandhy Piorski, “a própria imaginação da criança a conduz a investigar a estrutura da vida, sua externalidade e substância”. Assim, as experiências do cotidiano, vivenciadas pelas crianças por meio das brincadeiras, as conduzem para um aprender – e apreender – do mundo, da realidade, das pessoas, das relações, etc., de mais tato, de mais reconhecimento e pertencimento. A brincadeira é inerente à criança, algo que faz parte dela. Então, pelo brincar, o aprendizado se desenvolve com mais fluidez e sua construção se dá de maneira mais genuína, com a criança como agente do processo.

Como incluir as brincadeiras e interações na Educação Infantil? 

Bem, agora que passamos por algumas teorias que falam do elo entre brincadeira e educação, vamos para algumas referências práticas e fontes de materiais que podem servir de lanterna e farol para guiar a inclusão das atividades lúdicas na rotina escolar. Siga a leitura para acompanhar as dicas:

  • Programa Criança e Natureza 

A primeira dica que gostaria de compartilhar é o programa Criança e Natureza, do Instituto Alana, que produz e compartilha conteúdos para influenciar políticas públicas capazes de estimular e favorecer o contato das crianças com a natureza no ambiente urbano. 

Com o propósito de criar condições favoráveis para que crianças, em especial as que vivem em áreas urbanas, cresçam e se desenvolvam em contato direto com ambientes naturais, as ações do programa pensam estratégias e iniciativas que envolvam a sociedade como um todo, especialmente famílias, educadores, profissionais de saúde, planejadores urbanos, ambientalistas e representantes do poder público. 

E para viabilizar, de fato, essa relação criança-natureza, são pensadas conexões relacionadas à natureza possível e acessível nos canteiros, jardins, praças, parques, praias e florestas, urbanas e remotas. O verde que está ali, perto e disponível. 

Dessa maneira, o programa propõe, por meio dessa conexão, a liberdade para brincar e a permissão para experimentar com o corpo e os sentidos. A natureza vem como lugar primeiro e fundamental para a formação do ser humano e como espaço de desafio e conquista geradora de aprendizado e de desenvolvimento das crianças.

  • Grupo Interinstitucional Queixa Escolar (GIQE)

Outra referência para educadores, educadoras, professores e professoras que divido aqui é do Grupo Interinstitucional Queixa Escolar (GIQE). Trata-se de um grupo, construído por psicólogas e psicólogos, que desenvolve ações e discute temas relacionados aos processos de produção das queixas escolares. Os profissionais envolvidos desenvolvem e divulgam novas práticas possíveis de atendimento psicológico no contexto da educação. 

O GIQE se posiciona de maneira crítica às abordagens que excluem os processos escolares, sociais e históricos das dificuldades de escolarização e disponibiliza, em sua plataforma digital, vídeos e publicações relacionadas à Psicologia na interface com a Educação. 

Além disso, promove encontros e oferece caminhos para o enfrentamento dos desafios da realidade do aprendizado diante de cenários atípicos, como o da pandemia de Covid-19. O grupo se encontra mensalmente e realiza estudos, debates, articulações e oferece apoio mútuo e implementação de ações coletivas e de gestão junto ao poder público. É outra ferramenta potente de suporte, orientação e transformação na Educação Infantil. 

  • Diálogos

A Diálogos surgiu do encantamento e da inquietação de duas pedagogas que acreditam nas muitas possibilidades de linguagens das crianças. Elas começaram o projeto com o envio de kits pedagógicos para várias cidades e estados brasileiros com a intenção de auxiliar na formação dos docentes. 

Depois, inauguraram um espaço físico, a Casa Diálogos, preparada para receber professores em suas ações de formação. Na página da internet, é possível acessar conteúdos com dicas de leitura, dicas de viagens, informações e referências sobre diferentes e possíveis metodologias de ensino. Assim, a Diálogos contribui para a qualidade de ações pedagógicas de muitos educadores e possibilita a participação e o intercâmbio de experiências escolares ao redor do mundo. 

  • Portal Lunetas 

Por fim, como dica, indico o portal Lunetas, um espaço-tempo virtual que oferece conteúdos reais feitos para explorar os múltiplos olhares sobre as múltiplas infâncias do Brasil. É um site com muita informação, reflexão e inspiração. Há uma aba, inclusive, somente voltada  às brincadeiras e onde é possível encontrar dicas de atividades científicas, de contato com a natureza, de pensamento lógico e sustentável.

Ah, e para fechar com muita leveza, conhecimento e arrebatamento, indico, dentro do Lunetas, a entrevista com Severino Antônio, escritor de “Uma Pedagogia Poética para a Infância” e doutor em Educação pela Unicamp. Antônio se dedica, há mais de 40 anos, ao ensino e à formação de educadores. Vale aprender com quem sabe dos caminhos e dos encantos do educar.

É isso! É por meio da  brincadeira que a criança constrói e confronta ideias. É por meio da brincadeira que a criança estabelece um aprendizado sobre as relações com e do mundo. É por meio da brincadeira que a criança lida com sua realidade e nos escancara. Precisamos estar atentas e atentos à importância do brincar.

“Ora, a aprendizagem e a construção de significados pelo cérebro se manifesta quando este transforma sensações em percepções e estas em conhecimento, mas esse trânsito somente se completa de forma eficaz quando aciona os elementos essenciais do bom brincar que são, justamente, memória, emoção, linguagem, atenção, criatividade, motivação e, sobretudo, a ação.” 

Celso Antunes, em Educação infantil: prioridade imprescindível.


Essas foram as referências sobre brincadeiras e interações para a Educação Infantil que gostaria de compartilhar com vocês neste artigo. Espero que, por meio do acesso a tantos conteúdos relevantes, inspiradores e bem produzidos, a criatividade ganhe impulso e você possa colocar em prática, no cotidiano com os pequenos, novas e bonitas formas de se aprender e ensinar. 

Até o próximo!