Supervisão em psicologia: partilha transformadora para o seu desenvolvimento profissional

Gente. Está aí uma coisa pela qual me sinto devota, admiradora, eterna aprendiz. Gosto de estar perto de pessoas, estudar o comportamento de pessoas, me conectar com diferentes subjetividades e aprender com a diversidade de gentes que existe no mundo. Isso porque acredito que somos seres plurais e que é no coletivo que podemos (re)descobrir e impulsionar nossas potências, além de encontrar oportunidades para lidar com dilemas que nos atravessam durante a jornada. Na vida profissional, esse princípio também é presente: grupos de estudo, eventos, congressos e trocas com outras pessoas da área sempre alargam meus horizontes e me abastecem para continuar na lida.

Dessa forma, enxergo que a prática profissional não precisa ser solitária, nem árida; ela pode ser muito bonita, reveladora, segura, especialmente quando partilhamos com alguém que nos auxilie a buscar nossa forma singular de exercer a profissão. É nessa abordagem que a supervisão em psicologia me é um espaço muito importante para um exercício ético, respeitoso e transformador.

Neste artigo que preparei, compartilho com vocês as premissas que me compõem como psicóloga e as quais incorporo nas supervisões que realizo com outros e outras profissionais, além de apresentar possibilidades de supervisão para psicólogos e psicólogas que desejam se desenvolver na troca e no pulsar. 

Vem comigo!

 

O compromisso com a realidade concreta

PREMISSA 1

 “A construção e o fortalecimento de uma profissão fazem-se também pelo grau de vinculação e comprometimento que passa a ter com a realidade concreta da sua gente.”

 

Quando se gosta de gente, torna-se inegociável compreender as estruturas sociais, políticas e econômicas que permeiam a experiência de cada pessoa. Por isso, é com essa premissa que convido a pensar sobre o papel da supervisão para uma psicologia ética e comprometida com a população que visa atender.

No meu percurso na Psicologia enquanto ciência e profissão, a questão da práxis sempre esteve presente como um guia das minhas ações – toda prática precisa ser reflexiva e toda reflexão precisa ser experimentada, confrontada e instigada por uma prática.

Assim, o fortalecimento de uma profissão, neste caso a psicologia, passa pelo comprometimento ético, estético e político ao qual psicólogos e psicólogas precisam estar em constante conexão e afinamento.

Sei que a Psicologia tem uma série de pressupostos epistemológicos e que a sua história é complexa. Diante desta constatação, empresto as palavras de Camino (2000):

“A Psicologia é uma ciência muito complexa, isto é, possui diversas matrizes de pensamento que buscam, cada qual a seu modo, compreender e explicar o ser humano. Isto leva o psicólogo a adotar uma ou outra posição ontológica, caindo por terra a ideia de neutralidade científica”.

O que isso significa? Que a neutralidade é inconcebível no mundo das ciências, pois cada pensamento e cada paradigma são regidos por determinados valores, crenças e posicionamentos políticos. Esse fundamento é a base de toda a atuação que acredito, pratico e compartilho.

 

 

Psicologia sem inércia

PREMISSA 2

“O trabalho profissional e o papel social do psicólogo devem ser orientados em função da situação histórica e das necessidades da população a que se propõe atender.”

(MARTÍN-BARÓ,1996)

 

Nas tramas da vida cotidiana, são diversos os desafios de ser e de se fazer  psicólogo e psicóloga, seja por uma formação básica, que por vezes é medicalizada, insuficiente para nos auxiliar na compreensão do mundo e dos modos de existir; seja pela complexidade de vida em sociedade e da existência humana; ou sejam pelos jogos de poder que, vez ou outra, nos escapam da compreensão.

Neste sentido, encontro forças e subsídios no querido Martin-Baró, psicólogo Salvadorenho, da Psicologia da Libertação, que aponta três desafios para profissionais de psicologia da América Latina:

  • O saber psicológico deve ser confrontado com os problemas do povo e com as questões que lhe são apresentadas. (não se pode continuar com a inércia dos esquemas teóricos já conhecidos ou das formas de atuar habituais);
  • É urgente assumir a perspectiva das maiorias populares.  (sociologia do conhecimento – o que se vê da realidade e como se vê, depende de que forma essencial do lugar social de onde se olha);
  • A Psicologia é a disciplina cujo objetivo está em examinar o quê de ideológico há no comportamento humano, pois toda ação humana se propõe a articular os interesses individuais.

Conectando esses apontamentos de Baró com os valores que carrego comigo – ética, conexão, autonomia, cuidado, educação -, acredito que em um terreno seguro, o que me dedico a fazer na supervisão de psicologia, é possível tecer elaborações para dar conta das urgências que nos convocam a atuar com olhar crítico perante as estruturas tantas vezes opressoras, tendo em vista o acolhimento como referência.

 

Aprender a desaprender

PREMISSA 3

 “Para atuar na clínica psicológica é necessário que se aprenda a ver. O problema é que é muito difícil aprender a ver somente a partir dos moldes de uma técnica. Pois aprender a ver exige um tipo diferente de aprender, e esse tipo de aprender é muito árduo e demanda um estudo aprofundado, porque aprender a ver é uma aprendizagem do desaprender.”

(Feijoo e Almeida, 2023)

 

Essa terceira premissa nos convida a desaprender a ver o mundo e o outro como algo dado, fechado, acabado. Convida-nos a fazer um movimento genuíno e filosófico de suspensão apriorística dos valores, das teorias, das crenças, para uma real conexão com o que se desvela no momento do encontro entre o psicólogo e o mundo – seja esse mundo a pessoa atendida,  a escola, a instituição, a comunidade.

A supervisão entra aqui como um espaço primordial para esse caminhar, esse aprendizado de novas linhas, agulhas, riscados e bordados. Permite  criar um olhar colorido por si.

Eu quero desaprender para aprender de novo.
Raspar as tintas com que me pintaram.
Desencaixotar emoções, recuperar sentidos.

(Rubem Alves)

A supervisão em psicologia e suas possibilidades

A supervisão clínica pode desempenhar um papel crucial na formação e na prática de psicólogos e psicólogas, pois destrava portas para um mundo de descobertas, reflexões profundas, inclusive sobre as próprias crenças e preconceitos, sendo assim, espaço singular de crescimento pessoal e profissional. Uma oportunidade de explorar suas próprias experiências, entender o outro em um nível mais profundo e desenvolver habilidades terapêuticas essenciais. 

Imagine que nessa jornada você terá o apoio de uma pessoa experiente, acolhedora, atenta, que poderá partilhar conhecimento atualizado com as últimas pesquisas e práticas, cuja orientação ética, conectada e técnica, permitirá criar o seu caminho no tornar-se psicólogo ou psicóloga.

 

 “Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão.”
(Paulo Freire)

 

Assim, te convido a olhar comigo como, na prática, a supervisão pode agregar para a sua vida profissional. Deixo aqui algumas das possibilidades:

Desenvolvimento Clínico: Imagine a supervisão como um ambiente seguro, no qual você tem a oportunidade de aprimorar suas habilidades clínicas. É um espaço onde você pode mergulhar nos casos, obter feedback construtivo sobre as suas práticas e absorver a sabedoria daqueles que já trilharam muitos caminhos.

Ética e Responsabilidade: Nesse cenário, a ética não é apenas um conceito, mas uma jornada de autoconhecimento. Supervisores experientes guiarão você na compreensão profunda dos princípios éticos da nossa profissão, auxiliando-o na tomada de decisões difíceis e garantindo que você siga os mais altos padrões profissionais.

Autoconhecimento e Reflexão: A supervisão é uma oportunidade única para uma jornada de autoexploração. É um espaço onde você é incentivado a investigar seus próprios preconceitos, crenças e reações emocionais. Através disso, você crescerá não apenas como profissional, mas como pessoa.

Aprendizado Contínuo: A psicologia é uma disciplina que nunca para de evoluir. Na supervisão, você se manterá atualizado com as pesquisas mais recentes, aprendendo novas abordagens terapêuticas e técnicas de intervenção, enriquecendo sua prática e aprimorando seu serviço aos clientes.

Desenvolvimento de Habilidades de Comunicação: Imagine aprimorar sua capacidade de estabelecer conexões genuínas com seus clientes, ouvindo atentamente e comunicando-se de forma eficaz. A supervisão é onde você adquire essas habilidades valiosas.

Crescimento Profissional: Além do desenvolvimento clínico, a supervisão é uma jornada de crescimento pessoal e profissional. Ela o ajuda a enfrentar o estresse e a carga emocional do trabalho, desenvolver estratégias de autorregulação e crescer como um terapeuta maduro e compassivo.

Segurança do Cliente: A supervisão atua como um escudo protetor para seus clientes. Supervisores experientes podem identificar possíveis erros clínicos, garantindo que seus serviços sejam seguros, de alta qualidade e éticos.

Conformidade Regulatória: A supervisão como um espaço que lhe ajudará na busca de uma compreensão e prática em conformidade com o que a legislação vigente fala sobre a ciência e profissão de psicólogos e psicólogas.

 

Neste emocionante percurso de formação, a supervisão em psicologia é a sua companheira de confiança para uma construção mais segura do fazer psicologia. Um momento em que terá a possibilidade de encontrar seu próprio colorido dentro da profissão, se permitindo descobrir sobre si e sobre esse exercício profundo, desafiador, e extremamente valioso que é estar no mundo como psicólogo e psicóloga.

Conte comigo nessa travessia.

 

Abraços, 

Carol Freire